O que fazem os náufragos?

Eu naufraguei em 2021.

Por definição, a palavra náufrago faz menção à vítima de um acidente aquático que resultou no afundamento de uma embarcação, seja real, ficcional ou psicológica, e eu estive nessa condição justamente quando achava que ganharia o mar aberto. Desembarquei em Belém, capital do Pará, em 4 de julho daquele ano, para realizar a tão aguardada prova para Investigador de Polícia Civil. Depois de quase um ano e meio de preparação, uma dezena de simulados e outras centenas de questões, por fim eu me considerava pronto para conquistar uma das vagas daquele certame.

Naquela madrugada na “cidade das mangueiras”, em meio à umidade da selva amazônica e um aeroporto abarrotado de pessoas cujas bagagens estavam repletas de sonhos, eu reafirmei a minha convicção de que não seria um jogo fácil. Aliás, já quando do meu embarque em Recife, assisti a diversos concurseiros com material em mãos e olhares ansiosos, como se aprumassem os mastros de suas embarcações naquela revisão apressada de última hora.

Mas isso não me enfraqueceu, afinal eu sabia a minha capacidade para um bom desempenho. Naquele dia, eu me testei perante uma multidão que, diante de uma pandemia, poderia estar melhor preparada. Em meio a esse roteiro, encarei a prova com tranquilidade, mas não consegui ser aprovado.

Como se a vida me mostrasse que sonhos também podem ser por vezes crueis, reprovei por 0,2 décimos, que martelaram em minha mente durante os meses subsequentes à tentativa de travessia para o mar dos concursados.

Contudo, náufragos precisam sobreviver, até que resgatem a sua alma por suas próprias forças. Aprendi isso no filme estrelado por Tom Hanks, em que a trama se concentra nas suas tentativas de voltar para casa. Ainda que terceiros tenham dado o seu sonho como morto, assim como no roteiro hollywoodiano, não desista.

Hoje, esse depoimento é de alguém que já se tornou policial. Meu aparente naufrágio não me fez desistir do sonho, apenas me tornou resiliente. Portanto, nade sempre um pouco mais e acredite sempre na palavra d’Aquele que te prometeu terra firme.

(Depoimento enviado por um membro do Caveira).



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